A quebra de barreiras
entre o falar e ouvir
Por: Camilly Paschoal
João Pedro, jovem de 18 anos, é surdo oralizado. Como é de conhecimento comum, conseguimos falar bem porque ouvimos, no entanto, para toda regra há uma exceção e João comprova este fato.
Rompendo um preconceito convencionado por grande parte da sociedade de que um surdo e mudo, João quebra barreiras por sua capacidade de falar.
O jovem não se sente confortável quando o rotulam à primeira vista, deduzindo que ele é mudo por não ter audição, “tenho voz e uma língua- Libras”.
Atualmente, João faz curso técnico no SENAI, e estuda sobre desenvolvimento de sistemas, além de trabalhar auxiliando o pai no serviço de instalação de ar-condicionado. Por trabalhar em família, relata que tem facilidade em se comunicar no trabalho, porém ainda sente um pouco de dificuldade no ambiente escolar, embora receba ajuda de um interprete durante as aulas.
Mas houve um longo caminho a percorrer para chegar aonde está hoje.
Pedro explica sua trajetória e como se tornou surdo oralizado; O entrevistado relata que nasceu ouvinte, mas com um ano e dois meses se infectou com broncopneumonia (inflamação que atinge as estruturas internas dos pulmões; brônquios e alvéolos), que evoluiu até provocar uma lesão em sua Cóclea, fazendo com que o estribo (estrutura interna do ouvido) reduzisse sua passagem de som, o que gerou perca auditiva gradual classificada como moderada.
Como João já tinha algumas palavras registradas em sua memória, a partir disso, surgiu sua capacidade de ser um surdo que fala. Para o desenvolvimento desta capacidade, foi acompanhado e tratado por uma fonoaudiologia durante 5 anos, além de aprender libras com seu irmão mais velho.
Aprender libras com seu irmão o ajudou desenfreadamente a desenvolver sua leitura labial, fundamental no seu dia a dia, em especial para se comunicar com pessoas que não falam em libras.
Em decorrência disso, a pandemia surgiu como uma inesperada adversidade a ser enfrentada na sua socialização, em função do uso da máscara, o que atrapalhou consideravelmente na hora de interagir verbalmente com outras pessoas, fomentando na sensação de incômodo por se sentir deslocado.
Ser surdo oralizado descomplexifica o diálogo entre surdos e ouvintes que não dominam as libras, porque permite se expressar e se fazer entender com maior clareza, de ambas as partes.
Na sua vida cotidiana, João frequenta ambientes corriqueiros e na maioria das vezes se sente incomodado com a falta de pessoas habilitadas para tradução das libras e a dificuldade no entendimento do que ele quer falar em locais como em restaurantes, cinema, lojas, entre outros.
A situação se torna agravante, quando ele se encontra em uma situação que precisa de ajuda e não tem ninguém habilitado em determinadas circunstâncias para orientar.
Em um mundo a cada dia mais pautado no autodesenvolvimento, autoconhecimento e no “eu”, é preciso abarcar e abraçar as outras realidades exercitando a empatia, que só é possível com informação, para conseguir compreender o outro ponto de vista.
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