A vida sem o grave, médio e o agudo
É comum pessoas conversarem sobre sua escola, falando sobre o que aprenderam e conversar sobre assuntos diversos com seus amigos e familiares. Sobre sua vida social, indo em shows, barzinhos e se relacionando com pessoas. Sobre seu trabalho, falando com os colegas sobre sua vida e tendo reuniões em grupo.
Todas essas atividades são comuns para a maioria dos cidadãos brasileiros. Esses três pilares: educação, sociedade e trabalho, são vividos e conhecidos por boa parte das pessoas. Porém, para aproximadamente 5% da população brasileira, esses pilares não são muito discutidos.
Esses 5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, corresponde ao número de pessoas surdas no Brasil.
Devido a barreiras linguísticas, que muitas vezes são transformadas em barreiras sociais, e a preconceitos presentes em nossos cotidianos, a comunidade Surda segue como uma parcela invisibilizada na sociedade brasileira. Questões como sua educação, vida social e sua participação no mercado de trabalho merecem ser mais discutidas no Brasil.
A inserção do surdo na sociedade, desde sua educação primária, que é a base da formação de uma pessoa. Passando pela vertente do surdo como sujeito social, que trata de sua integração nos meios sociais, tanto escolar quanto na família e ambientes externos. Chegando então, até o momento de entrar no mercado de trabalho, são assuntos que tem que ser mais reconhecidos, visando a inclusão do surdo na sociedade.
O início da vida escolar de uma pessoa é muito importante. Nesse começo serão feitos os primeiros passos da criança no processo educativo, mas também na questão social, já que enquanto na escola ou creche, a criança vai ter os primeiros contatos com outras crianças.
A falta de materiais e conteúdos ministrados em LIBRAS dentro do cenário educativo, dificulta a inserção dos surdos em escolas, cursos e universidades. Mesmo que no Artigo IV do Estatuto da Pessoa com Deficiência garanta a oferta de educação bilíngue, em LIBRAS, e o uso de tecnologia assistiva, em escolas do poder público, muitas instituições não possuem esses recursos, ou seus profissionais não tem a formação adequada.
O professor de Libras, João Bispo, afirma que esse despreparo educacional pode gerar consequências substanciais para a pessoa surda. “Essa falta de estrutura educacional, faz com que o surdo ao findar seu processo educativo de formação, não consiga outros espaços na sociedade, no mercado de trabalho”, conta o professor.
Por:
Luís Felipe Guimarães
Como são alguns pilares rotineiros da vida para os surdos
Bispo diz que a forma que a educação se
porta hoje para o surdo, faz com que alguns
deles tenham um pequeno atraso cognitivo.
Entretanto, ele chama também a atenção de
que esse atraso não tem nenhuma ligação
com a surdez. “A surdez não ocasiona
nenhuma deficiência intelectual no surdo.
Mas a falta de aquisição linguística sim,
justamente pelas as escolas não promoverem
a língua de sinais”, reitera Bispo.
Outra consequência desse descaso
educacional, apontado pelo professor, é
algumas dificuldades na interação social,
devido à falta de conhecimento da língua de
sinais pela sociedade. “O surdo quando volta
pra casa não tem contato e não consegue
conversar com seus pais e familiares, por os
pais não saberem falar Libras, e as vezes nem os próprios surdos”, relata Bispo.
Surdos na Educação
Surdos e intérprete em lições bíblicas. Foto: Luís Felipe Guimarães
João Bispo, professor e intérprete de Libras. Foto: Arquivo pessoal
Início da Educação
acessibilidade para alunos surdos. Reis afirma
que só conseguiu concluir o ensino médio
quando estudou numa escola para surdos, a
AESOS (Associação Educacional Sons no
Silêncio).
“Só consegui entender as matérias, quando
estudei na AESOS, nas escolas anteriores, eu
não conseguia avançar as séries porque
nenhum professor conseguia se comunicar
comigo”, relata Reis.
Em conversa com Tiara Reis, surda formada em design de moda, ela conta que passou por diversas escolas, mas todas eram para estudantes ouvintes, sem nenhum recurso de
Foto: AESOS/ Divulgação
Durante a faculdade, a designer de moda de 38 anos, diz que ficou um mês sem aula devido a seu intérprete de Libras ter abandonado a função e que teve que insistir com a faculdade pra ter outro intérprete. “Só consegui outro intérprete porque minha irmã, depois de insistir para que a faculdade providenciasse com urgência um novo intérprete, teve que ameaçar denunciar a situação ao MEC, pois a coordenação do curso estava tratando a situação com descaso”, conta Reis.
Reis relata seu primeiro contato com colegas de turma na escola. Sua primeira escola não era para surdos, então ela conta que nem todos conseguiam conversar com ela. “Nós brincávamos muito, mas não conversávamos porque eu não entendia eles e eles não me entendiam”, expõe a designer de moda.
Já Thiago Martins, brasileiro surdo, diz que estudou em uma escola que tinha um professor que dava aulas em Libras, o que facilitou sua educação. Porém, ele relata que quando mudou de escola apresentou dificuldades em aprender porque não havia nenhum professor que ensinasse em Libras, só conseguindo terminar o 2º grau quando estudou na AESOS, escola para surdos.
Foto: AESOS/ Divulgação
O baiano de 38 anos, conta que seu primeiro contato com os seus colegas de classe foi bem natural. “Minha primeira escola era para surdos, para mim foi fácil ter amigos pois éramos iguais e aprendemos juntos a LIBRAS”, diz Martins. Entretanto ele comenta que quando foi para sua segunda escola, já foi mais complicado ter amigos, pois como eram ouvintes, ele não os entendia, nem eles o entendiam.
“Na AESOS, eu fiz amizades novas e reencontrei velhos amigos, foi muito bom ter estudado lá porque eu consegui aprender e socializar”, completa Martins.
Primeiros passos para a inclusão escolar
Para o professor e intérprete de Libras, João Bispo, a acessibilidade para estudantes surdos não seria feita de maneira ideal somente por uma adaptação de conteúdo. Além disso, deve haver uma política linguística dentro da instituição. “Inicialmente pra algumas escolas com a presença do intérprete de língua de sinais, a acessibilidade acontecendo a partir dessa competência tradutória do profissional”, diz Bispo.
“Tem que ser uma política que promova o ensino e a aprendizagem da língua de sinais por outros atores dentro dessa cena educativa. “A gestão, direção e funcionários tem que estar envolvidos nessa política”, opina Bispo, “É importante que os outros alunos, mesmo ouvintes, aprendam a língua de sinais”, completa.
O professor afirma que a língua de sinais deve estar presente no projeto político pedagógico da escola e no regimento das faculdades, as instituições tem que assumir esse compromisso, para que as áreas tenham a presença da língua de sinais e promovam a entrada de alunos surdos dentro desses espaços.
Tiara Reis acredita que professores ouvintes que não dominam a língua de sinais não são ideais para pessoas surdas. As escolas e faculdades deveriam ter professores que saibam Libras para que os surdos possam estudar e entender tudo que é ensinado, assim como um ouvinte entende.
Foto: Símbolo Surdo Internacional
“Os assuntos e temas precisam ser explicados em Libras, não adianta gesticular ou escrever, a nossa língua é Libras”, alega Reis.
Surdos na Sociedade
A barreira linguística presente entre os surdos e ouvintes, muitas vezes acaba gerando uma barreira social, que juntamente com o preconceito, dificultam a inserção dos surdos em sociedade. Com isso, uma parcela que já é pequena no Brasil, com 10 milhões dos brasileiros sendo surdos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fica ainda mais invisibilizada.
Mesmo que a comunidade Surda venha conquistando seu espaço na sociedade, ainda ficam evidentes alguns limites. Regado pelo preconceito, muitos ainda acham que a pessoa surda é limitada, incapaz e dependente.
Thiago Martins conta que já presenciou pessoas fazendo piada e desrespeitando sua deficiência. “Eu ignorei, só que sei que isso pode machucar outros surdos, não acho certo”, afirma Martins.
No caso de Henrique Gomes, ele afirma que já sofreu ataques mais extremos por ser deficiente auditivo. O jovem de 21 anos conta que já foi agredido várias vezes quando era mais novo, além de ser alvo de piadas.
“Quando eu estava na escola no 5º ano, uma menina me chamou de insuportável só por eu ser surdo”, relata Gomes.
Henrique Gomes, deficiente auditivo. Foto: Arquivo pessoal
Já Tiara Reis diz que as pessoas tem certa curiosidade de ter uma conversa com uma pessoa surda, mas evitam fazer isso pelo fato de ter que saber Libras. A designer de moda relata que percebe que algumas pessoas ficam observando ela e sua família ou amigos quando estão conversando na rua, mas poucas possuem a “coragem” para interagir com surdos.
Essa falta de “coragem” faz com que atividades simples do nosso cotidiano se torne algo desconfortável para a pessoa surda, muitas vezes contribuindo para essa manutenção dessa equivocada imagem de dependente. “Várias vezes fui em lojas solicitar um item e o vendedor trouxe um item errado ou disse que não tinha só para não me atender. Quando vamos com um ouvinte, sempre conseguimos comprar tudo que queremos”, conta Reis.
Acessibilidade já!
Outra forma de uma pessoa se sentir pertencente a uma sociedade é através de atividades culturais, como ir ao museu, teatros, shows, eventos e restaurantes. Nessas situações, a pessoa está em contato com outros indivíduos e com a cultura que abraça uma sociedade. Porém, precisa ter uma maior acessibilidade para que os surdos sejam inseridos nessas práticas sem serem prejudicados.
Alguns lugares, como museus, já possuem certos recursos. É comum ver em alguns museus o uso de vídeos com intérpretes de Libras traduzindo alguns conteúdos sonoros para os surdos. Porém é preciso investir mais nesses recursos.
Tiara Reis, Designer de Moda.
Foto: Arquivo pessoal
Reis ressalta essa necessidade de ter uma acessibilidade adequada para as pessoas surdas dentro do aspecto cultural. “Nós surdos queremos saber o que as músicas dizem, queremos ir aos museus, aos teatros, queremos ir aos restaurantes sem precisar apontar para o cardápio e sem precisar escrever se o pagamento será crédito ou débito”, conta Reis. “queremos assistir palestras, queremos ter acesso à cultura”, completa.
A representatividade é um fator muito importante para a inserção de um grupo na sociedade. Com isso, trazendo consigo a visibilidade. Trazendo alguém que vai refletir para os demais integrantes da sociedade as dificuldades que a comunidade Surda passa, suas necessidades.
Jaime, surdo baiano integrante do MAS (Ministério Adventista com Surdos), conta que sente a necessidade de mais comunidades Surdas em Salvador. Ele alega que a cidade e o estado têm muitas pessoas surdas, mas que elas precisam se reunir mais em comunidades, e que as que já existem, precisam de mais divulgação e visibilidade.
Jaime, integrante do MAS. Foto: Arquivo pessoal
“Seria muito importante para nós surdos termos alguém que nos represente, alguém que também seja surdo pois, somente assim teremos respeito na sociedade”, alega Martins. “Somente um surdo na política ou pelo menos alguém que realmente conviva com uma pessoa surda, para entender a nossa dificuldade em ser inserido na sociedade”, complementa.
Surdos no Mercado de Trabalho
As barreiras linguísticas e os preconceitos que a pessoa surda se depara no dia a dia, ficam ainda mais visíveis quando se trata do mercado de trabalho. A discriminação baseada na ideia de que os portadores dessa deficiência não são capazes de realizar certas ações e que são dependentes de outros, dificulta ainda mais o acesso em empregos.
Além disso, muitas empresas não possuem intérpretes para auxiliarem os trabalhadores surdos em algumas situações, ou explicarem qual será sua função dentro daquele trabalho. Isso leva a permanência do surdo no emprego não ser tão longa, levando os integrantes da minoria ao desemprego ou a ocupações informais.
No Brasil, somente 37% dos brasileiros com deficiência auditiva, contra os 58% dos demais brasileiros ouvintes, estão empregados, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva.
Thiago Martins, conta que é difícil para eles, surdos, ingressarem no mercado de trabalho, principalmente em uma profissão de acordo com as qualificações que possuem. O surdo de 38 anos ainda fala que mesmo tendo feito cursos de aptidão em algumas áreas, ainda é desvalorizado no âmbito profissional.
“Minha esposa possui curso superior e eu possuo diversos cursos na área de tecnologia, mas em Salvador, querem nos empregar como empacotadores de supermercado, um cargo que não exige muita qualificação”, relata Martins.
Thiago Martins, ex-funcionário de empresa de manutenção.
Foto: Arquivo pessoal
Uma empresa com acessibilidade
Cristiane Cruz, intérprete de Libras que atua dentro de empresas, afirma que é importante uma instituição ter recursos de acessibilidade para os colaboradores surdos justamente para eles conseguirem ser inseridos no meio onde atuam, entender o fluxo de trabalho e aprender com a mesma precisão que os ouvintes.
A intérprete de 37 anos diz que dentro de um ambiente de trabalho onde tem essa inserção do trabalhador surdo, os ouvintes apresentam interesse em conhecer mais sobre essas pessoas. “A empresa faz com que outras pessoas tenham a noção de como funciona a língua de sinal e conhecer mais os surdos”, relata Cruz.
Cruz também comenta sobre essa questão
da valorização do trabalho do surdo. Ela fala
que o rendimento de um trabalhador não-
ouvinte é igual ao rendimento de um
trabalhador ouvinte. “Na empresa a gente
teve um vídeo, mostrando como é o
trabalho de um surdo e de um ouvinte,
quando estão lado a lado. Nesse vídeo a
gente comprova que o rendimento é o
mesmo, mostrando que eles são capazes
de exercerem funções tão bem quanto uma
pessoa ouvinte”, conta Cruz.
Durante a conversa, a intérprete de Libras
conta que a comunidade Surda tem vencido
algum desses obstáculos e conquistado
novas áreas para trabalhar. Ela ainda
ressalta a importância da inserção da língua
de sinais dentro do ecossistema das
empresas para a inclusão do surdo no
ambiente de trabalho. Assim como o
ouvinte precisa de um treinamento pra
exercer sua função, o não-ouvinte também precisa, a única diferença é que vai ser em Libras.
Cristiane Cruz, intérprete de Libras. Foto: Arquivo pessoal
“Quando há a possibilidade de trabalhar na área, o interprete detalha e explica como funciona a área, a função, o fluxo, e eles exercem a função normalmente.”, conta Cruz. “Essa explicação deixa eles mais soltos, pois já foi tudo explicado, e trabalham como qualquer pessoa, não tendo dependência nenhuma”, completa.
Cruz comenta sobre o feedback que a empresa recebe por ter um intérprete de Libras para fazer toda a interface entre ouvintes e não-ouvintes. “A resposta deles tem sido muito positiva, porque eles estão recebendo o mesmo conteúdo e aprendizado, no mesmo nível e tempo dos ouvintes”, diz Cruz.
A quebra de barreiras entre o falar e ouvir
Por:
Camilly Paschoal
João Pedro. Foto: Arquivo pessoal
Aprender libras com seu irmão o ajudou desenfreadamente a desenvolver sua leitura labial, fundamental no seu dia a dia, em especial para se comunicar com pessoas que não falam em libras.
Em decorrência disso, a pandemia surgiu como uma inesperada adversidade a ser enfrentada na sua socialização, em função do uso da máscara, o que atrapalhou consideravelmente na hora de interagir verbalmente com outras pessoas, fomentando na sensação de incômodo por se sentir deslocado.
Ser surdo oralizado descomplexifica o diálogo entre surdos e ouvintes que não dominam as libras, porque permite se expressar e se fazer entender com maior clareza, de ambas as partes.
Na sua vida cotidiana, João frequenta ambientes corriqueiros e na maioria das vezes se sente incomodado com a falta de pessoas habilitadas para tradução das libras e a dificuldade no entendimento do que ele quer falar em locais como em restaurantes, cinema, lojas, entre outros.
A situação se torna agravante, quando ele se encontra em uma situação que precisa de ajuda e não tem ninguém habilitado em determinadas circunstâncias para orientar.
Em um mundo a cada dia mais pautado no autodesenvolvimento, autoconhecimento e no “eu”, é preciso abarcar e abraçar as outras realidades exercitando a empatia, que só é possível com informação, para conseguir compreender o outro ponto de vista.
João Pedro. Foto: Arquivo pessoal
João Pedro, jovem de 18 anos, é surdo oralizado. Como é de conhecimento comum, conseguimos falar bem porque ouvimos, no entanto, para toda regra há uma exceção e João comprova este fato.
Rompendo um preconceito convencionado por grande parte da sociedade de que um surdo e mudo, João quebra barreiras por sua capacidade de falar.
O jovem não se sente confortável quando o rotulam à primeira vista, deduzindo que ele é mudo por não ter audição, “tenho voz e uma língua- Libras”.
Atualmente, João faz curso técnico no SENAI, e estuda sobre desenvolvimento de sistemas, além de trabalhar auxiliando o pai no serviço de instalação de ar-condicionado. Por trabalhar em família, relata que tem facilidade em se comunicar no trabalho, porém ainda sente um pouco de dificuldade no ambiente escolar, embora receba ajuda de um interprete durante as aulas.
Mas houve um longo caminho a percorrer para chegar aonde está hoje.
Pedro explica sua trajetória e como se tornou surdo oralizado; O entrevistado relata que nasceu ouvinte, mas com um ano e dois meses se infectou com broncopneumonia (inflamação que atinge as estruturas internas dos pulmões; brônquios e alvéolos), que evoluiu até provocar uma lesão em sua Cóclea, fazendo com que o estribo (estrutura interna do ouvido) reduzisse sua passagem de som, o que gerou perca auditiva gradual classificada como moderada.
Como João já tinha algumas palavras registradas em sua memória, a partir disso, surgiu sua capacidade de ser um surdo que fala. Para o desenvolvimento desta capacidade, foi acompanhado e tratado por uma fonoaudiologia durante 5 anos, além de aprender libras com seu irmão mais velho.
"Com meus pais eu nunca tive uma conversa fluindo normal"
Maurício é um surdo de 44 anos, aposentado. Enquanto em atividade, trabalhava como professor de Libras em uma escola na Ondina.
Christiana, filha de Maurício, é uma ouvinte de 21 anos. Atualmente trabalha no McDonald's como vendedora, enquanto estuda para cursinho
Por:
Alice Falcão
Maurício e Chris.
Foto: Arquivo pessoal
Repórter: Chris, nascendo numa família de pais surdos, qual idioma você aprendeu primeiro? Libras ou o Português?
Chris: O primeiro idioma que tive contato foi a língua de sinais (Libras).
Repórter: com quantos anos aprendeu o idioma secundário? Obteve alguma dificuldade?
Chris: Não me lembro com precisão com que idade eu aprendi a falar português, mas foi bem tarde, por volta de cinco/ seis anos de idade, eu falava frases desconexas, isso quando eu falava, pois em quase todos os lugares em que eu estava as pessoas eram surdas, então não precisava falar. Então tive bastante dificuldade em aprender a falar e ler.
Repórter: Chris, você sofreu alguma dificuldade no processo de alfabetização?
Chris: Sim, com toda certeza, eu aprendi a realmente a falar frases conexas e ler por volta de 8 anos de idade, antes disso eu usava frases como: eu ir praia, eu fome, quero banho.
Repórter: Chris, atualmente diante da sua fluência nas duas línguas, qual você se sente mais confortável em se comunicar?
Chris: Apesar da minha língua natural ter sido a Libras, hoje eu me sinto mais confortável para me comunicar através da língua portuguesa mesmo, contudo isso se dá devido ao meu estilo de vida atual, estou mais inserida com ouvintes, então eu a uso com mais frequência. Mas ainda me sinto confortável para falar em Libras, principalmente para conversar com meus pais.
Repórter: Mauricio, em relação a conversação, a sua comunicação com sua filha é melhor do que sua comunicação com seus pais? sempre foi assim?
Maurício: Com meus pais eu nunca tive uma conversa fluindo normal, já que eles não sabiam libras. Então não era tão confortável conversar com eles devido a isso. Entretanto meus filhos tem fluência, então fica mais fácil me comunicar com eles de forma mais tranquila sem dificuldades de compreensão, como eu tenho com meus pais.
Repórter: Maurício, seus país são surdos ou ouvintes? Tanto você quanto seus pais aprenderam a Língua Brasileira de Sinais quando crianças?
Maurício: Meus pais são ouvintes, e eles não sabem a língua de sinais. Apesar de ter um filho surdo eles não têm fluência em Libras, eles usavam mais a escrita ou a mímica para se comunicar comigo. Eu aprendi a língua de sinas com 17 anos, tive que viajar para São Paulo com uns amigos para poder aprender, já que no interior (Jequié-Ba) onde eu morava não tinha uma escola para surdos, o que dificultou meu aprendizado. Antes disso eu me comunicava através de mímica, basicamente.
Repórter: Maurício, como foi ensinar sua filha ouvinte a falar primeiramente em Libras? Foi desafiador para você ou completamente natural?
Maurício: Foi muito natural, com meses de vida eu já conseguia me comunicar com meus filhos, e com um ano de idade eu já conseguia saber quando eles estavam com fome, querendo ir ao banheiro, etc...
Maurício, respondendo em Libras
Vídeo: Arquivo pessoal
Sorveteria iL Sordo
A Il Sordo, é uma franquia trazida de Aracaju, cuja ideia nasceu de um surdo e sua família, buscando unir o desejo de empreender com o de criar um ambiente onde pudesse proporcionar a inclusão.
Por:
Luís Felipe Guimarães, Alice Falcão, Téo Mazzoni, Camilly Paschoal e Vinícius Daniel
MAS - Ministério Adventista com Surdos
e entrevista com o intérprete Vitor
O Ministério Adventista com Surdos é uma Igreja Adventista no Imbuí, em Salvador, que conta com uma total acessibilidade para os surdos, durante seus cultos e programações.
Em conversa com Vitor, intérprete de Libras da MAS, ele conta como é ser intérprete e sua importância.
Por:
Vinícius Daniel
Por:
Luís Felipe Guimarães, Téo Mazzoni e Leonardo Góes
Surdos no Trânsito
Você sabia que surdos podem dirigir? Jaime, condutor surdo, nos conta um pouco de como é esse ato tão comum para os brasileiros, na ótica de um surdo.
Por:
Luís Felipe Guimarães, Leonardo Góes e Alice Falcão
Lei que oficializa a Língua Brasileira de Sinais completa 20 anos
Professora de Libras ressalta a importância dessa conquista para os surdos
Por:
Vinícius Daniel
Este ano o Brasil celebra duas décadas da lei que reconhece a Língua Brasileira de sinais (Lei n°. 10.436/2002) como meio legal de expressão. Essa lei tem o objetivo de viabilizar a comunicação dos surdos, facilitar sua socialização, além de ser uma forma de valorizar as pessoas da comunidade Surda. Em um dos seus artigos, a lei, dispõe que o ensino de Libras deve ser garantido nos cursos de formação dos sistemas educacionais federais, estatuais, municipais e do distrito federal.
Com isso, depois desse decreto, já é possível identificar alguns avanços. É o caso de algumas grandes empresas, aos quais vêm adaptando seus serviços para a inclusão dos surdos.
“Contribui para a valorização da cultura surda, pelo fato de praticar a inclusão, dando voz para as pessoas que por muito tempo não tinham lugar na sociedade”, afirma Morgana Freire (professora de libras) sobre a lei.
“Acredito que podemos incluir a Libras em todas atividades do nosso cotidiano, seja nas novelas, nos filmes, jornais, programas de entretenimento. As pessoas surdas têm pouquíssimos acessos a esse tipo de coisa”, analisa Freire.
Morgana Freire, professora de Libras
Professora baiana segue na luta contra a violência entre mulheres surdas
Foto: Instagram (@juslibras)
Por:
Manoela Raquel
Com o início da pandemia e o isolamento social veio o número crescente de casos de violência doméstica, e então, muitas mulheres surdas ficaram ainda mais propícias a estes abusos. Com isso Laiza Rebouças, teve a ideia de ajudar estas mulheres com a criação de um canal no YouTube com informações jurídicas direcionadas a elas.
Formada em Letras e Direito, a professora começou a focar em assuntos direcionados a essas mulheres em situação de violência doméstica, hoje ela também atua em seu Instagram “JusLibras com Laiza Rebouças” (@juslibras) no qual ela posta também informações essenciais, tudo sendo explicado em Libras e incluindo essas mulheres.
Laiza por ser surda, sabe na pele o que essas mulheres passam diariamente. Ela foi diagnosticada aos 16 anos e teve que lidar com tudo isso sozinha, hoje ela tem o poder de ajudar outras mulheres a passarem por isso juntas. E ela usa a Internet e os seus conhecimentos como advogada para fazer tornar possível. Apesar da grande iniciativa e já ter sido noticiado em vários jornais, a sua conta no Instagram ainda não bateu 2.000 mil seguidores, mostrando o quanto esta causa ainda precisa de mais visibilidade.
Comunidade Surda ganha representatividade no universo infantil
Empresas lançam novos produtos destinados aos deficientes auditivos
Por:
Vinícius Daniel
Luís Felipe Guimarães
Este ano, empresas lançaram ações para aumentar a inclusão dos surdos na sociedade. A fabricante Mattel, com o lançamento de uma boneca Barbie com aparelhos auditivos, e a Maurício de Sousa Produções com uma nova personagem deficiente auditiva, ambas saem na luta a favor da valorização da diversidade.
Sueli
A nova integrante da Turma da Mônica foi apresentada na 24ª edição da Surdolimpíada de Verão, que ocorreu durante o mês de maio de 2022 na cidade de Caixas do Sul (RS). Sueli é uma menina de 9 anos, que é deficiente auditiva, é apaixonada por esportes e se comunicará através das libras (Língua Brasileira de Sinais) com os demais personagens das histórias de Maurício de Souza.
Foto: Instituto Maurício de Sousa / Divulgação
A personagem vem com o objetivo de
representar os deficientes auditivos, dando
visibilidade e voz para a minoria social. Sueli se junta a outros personagens da Turma da Mônica com algum tipo de deficiência, como a Tati, André, Dorinha e Luca.
Além desse brinquedo, a coleção também conta com outras representatividades fortes, como o caso do Ken com vitiligo. Essas mudanças se relacionam com a ideia da empresa de permitir que as crianças tenham contato com a diversidade do mundo desde pequenas, com intuito de reduzir os preconceitos.
Barbie
A fabricante Mattel inclui pela primeira vez uma Barbie com aparelhos auditivos atrás da orelha na sua linha de brinquedos. Visando incentivar a diversidade e a inclusão, a boneca faz parte da coleção “Fashionistas 2022”, que tem expectativa de ter seu início de venda em julho desse ano, no Brasil.
“É importante que as crianças se vejam
refletidas no produto e incentivem a
brincadeira com bonecas que não se parecem
com elas para ajuda-las a entender e celebrar a importância da inclusão”, explica Lisa Mcknight (vice-presidente executiva da Mattel e chefe global da Barbie e bonecas) em comunicado à imprensa.
Foto: Mattel / Divulgação
Galeria de Fotos
Por:
Teo Mazzoni
Luís Felipe Guimarães
Fotos também contam histórias.
Com isso, trazemos em nossa galeria "cliques" que representam a questão da inclusão, representatividade e luta da comunidade Surda.
PODCAST
Por:
Gabriel Falcão
Gabriel e Alice Falcão, com João Bispo (professor de Libras).
Foto: Alice Falcão